A Viúva Negra nunca teve nada fácil.
Na tela, Natasha Romanov tem uma angustiante história e está trabalhando arduamente para apagar o vermelho da sua conta, redimindo uma história de más sementes que nós só podemos imaginar com atos de heroísmo que desafiam a crença.
Fora da tela, muito do que o personagem de Scarlett Johansson faz é analisado através da lente da política de gênero. Como um dos únicos protagonistas femininos do universo cinematográfico da Marvel (até recentemente), alguns não a vêem não apenas como um personagem individual, mas uma representação para todas as mulheres. Isso é um trabalho pesado até para um super herói.
Em meio a acusações de que seu arco em Vingadores: Era de Ultron foi estereotipado e ofensivo – já que, assim como Tony Stark, ela expressou o desejo de voltar atrás com a coisa de salvar o mundo (e talvez encontrar alguém para amar e amá-la de volta) – a Viúva Negra se tornou um pára-raios.
Alguns acusaram o escritor-diretor Joss Whedon de sexismo por uma história que envolveu a Viúva desenvolvendo sentimentos românticos pelo Bruce Banner de Mark Rufallo, numa versão do conto A Bela e a Fera. Outros ficaram indignados que a Viúva tenha lamentado o treinamento assassino que a obrigou a ser esterilizada. Ainda teve outros que se sentiram ofendidos com essa reclamação, dizendo que ter uma família não significa que uma mulher não possa ter uma carreira (batendo pra caramba nos malfeitores, de outra forma).
A crítica da cultura pop Linda Holmes astutamente observou que se você trocar a história da Viúva em Ultron com os arcos de qualquer outro vingador, cada um ainda “levantaria questões sobre a história ser influenciada por estereótipos de genero”. Se ela fosse o Homem de Ferro, ela seria a causadora de problemas. Se ela fosse o Capitão América, ela seria a tensa. Se ela fosse o Hulk, ela teria suas emoções fora de controle, e assim por diante…
Adicione a isso a escassez de brinquedos da Viúva Negra, o que causou um alvoroço universal, até mesmo de Rufallo, que twittou sobre a necessidade da Marvel de fazer um merchandising melhor para convidar as meninas para brincar nesse universo, e Natasha começa a emergir não mais como uma guerreira, mas como um campo de batalha.
O que nos traz a Capitão América : Guerra Civil. Onde se encontra Natasha na sua quinta aparição no Universo Cinematográfico da Marvel?
Dessa vez, ela está do lado da ordem, alinhando – pelo menos por um tempo – com o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. na tentativa de obter o Capitão América para honrar o global Acordo de Sokovia, que força os “indivíduos aprimorados ” a operar sob o controle do governo.
Na cena em que a EW assistiu sendo filmada nesse verão, ela e Tony Stark terão um momento de tranquilidade antes de dar um ultimato ao Cap – ou então o governo dos EUA irá fazê-lo.
Stark esfrega no centro de seu peito, onde o reator arc foi uma vez incorporado. “Você sabe qual é o problema de uma versão totalmente funcional do coração…? É estressante.”
Ela é toda negócios : “Nós estamos dolorosamente sem pessoal”.
“Seria muito legal se tivéssemos o Hulk”. Ele diz.
Mas eles não têm. E a Viúva, ainda abrigando sentimentos por Bruce Banner, que foi visto pela última vez se aventurando num isolamento auto-imposto no Quinjet dos Vingadores – sabe disso melhor do que ninguém.
Durante uma pausa nas filmagens, nós conversamos com Johansson, e perguntamos o que ela pensa sobre esse cabo-de-guerra sobre sua personagem.
EW: O que ocupa a cabeça de Natasha atualmente? Em que estado encontramos ela após os eventos de Era de Ultron?
Scarlett Johansson: Meu Deus, isso é como uma sessão de terapia! Quando a vimos pela última vez os desafios eram astronômicos. E ela basicamente teve que escolher entre o dever e o que ela provavelmente merece. Acho que a essa altura ela já fez bastante e está pronta para…
EW: Ser, ou não ser, um Vingador?
SJ: [Risos] Sabe, eu acho que ela nunca aspirou ser uma Vingadora. Não foi exatamente uma escolha que ela fez. É como se os eventos na vida dela tivessem levado-a à este ponto, e quando a vemos [na Guerra Civil] ela finalmente é capaz de tomar um decisão por conta própria. Isto é um marco na vida de uma pessoa quando ela mesma não participou muito das decisões que foram tomadas em relação a ela. Ela está finalmente em um ponto onde ela pode dizer, “Ok, eu meio que sei o que eu quero. E eu acho que eu meio que mereço isso.”
EW: Mas ela ainda está na batalha. Então é isso o que ela quer?
SJ: Infelizmente com os eventos que ocorreram… ela tem uma espécie de ‘chamado superior’ e uma força puxando-a na direção de fazer o que é certo em prol de um bem maior. E ela escolhe isto, o que é um ato muito heróico, eu acho.
EW: A Viúva parecia estar liderando a equipe dos novos Vingadores ao fim da Era de Ultron, todos reunidos em sua sede.
SJ: É, não sei se ela está liderando essa equipe, mas ela certamente está- Eu acho que Natasha pensa de forma muito estratégica e isso é um ponto forte dela. Os super-poderes dela, se querem chamar assim, são a sua experiência, sua habilidade de geralmente tomar a decisão certa de forma rápida, em 1 minuto. E ela não está envolvida de forma pessoal. Quero dizer, isso é o que ela diz a ela mesma pelo menos. Isso faz com que ela tenha a cabeça no lugar e as ideias claras.
EW: Ela parece estar bastante inclinada para o lado de ver as coisas do Homem de Ferro.
SJ: Acho que quando a encontramos na Guerra Civil, ela está tentando se posicionar de forma estratégica, se colocando em um lugar onde ela pode deixar esses poderes em questão lutarem entre si. Ela está sempre um pouco pelas bordas para poder ter uma perspectiva melhor do que realmente está acontecendo.
EW: Dividir para conquistar?
SJ: Ela nunca foi muito de dividir para conquistar. Não acho que isso seja o jeito dela. Ela já viu isso e percebeu que nunca funciona. Ela veria isso como algo mais complicado do que escolher um lado, entende?
EW: Nas cenas que você gravou hoje, ela está irritada com o Capitão pelo o que ele fez, assim como Tony?
SJ: Sabe, eu acho que ela entende o ponto de vista de todos. E nada disso importa para ela, entende? Há um problema maior acontecendo e ela, eu penso, de forma estranha, é a mediadora. O que não é exatamente como imaginaríamos ela. Mas acho que ela realmente vê as duas faces da moeda e acho que o ponto forte dela é que ela não está envolvida de forma pessoal.
EW: Mais ou menos como aquela cena da festa na Era de Ultron onde ela não sente a necessidade de demonstrar força ou pureza tentando levantar o martelo do Thor? Ela não tem o objetivo de se provar para ninguém?
SJ: [Risos] É, acho que ela sabe quais são seus pontos fortes, e eu acho que ela tem a habilidade de uma líder de certa forma, mas ela trabalha bem em equipe.
EW: Como o fato de Bruce Banner ter ido embora no fim do último filme deixou ela se sentindo, depois dela ter ido atrás dele e ele ter rejeitado-a – e então indo embora?
SJ: Eu imagino que hajam algumas respostas para esta pergunta. Talvez você queira chamar de abandono ou algo assim, exatamente. Vulnerabilidade, rejeição. Eu acho que você pode olhar pra dentro de si e sentir dor, amargura e isso seria a escolha mais fácil. Mas ela entende que Banner fez o que tinha que fazer. Certamente ela não será a pessoa que vai punir alguém que não está pronto para se abrir. Não acho que ela tenha levado para o lado pessoal.
EW: Ela está tipo, “Quem perdeu foi você!”?
SJ: Não acho que seja isso. Eu acho que apenas não é o momento certo. É uma daquelas coisas quando você pensa na pessoa com muito carinho. Você mantém aquilo em uma parte querida do seu coração para esse alguém. Teria sido muito fácil para nós pegar isso e transformar em amargura neste filme e colocar ela reagindo. Mas isso fugiria um pouco da personagem, eu acho.
EW: Essa história irá continuar?
SJ: Eu não sei. Há pouquíssimo espaço para romance na Guerra Civil, acho que há muita coisa acontecendo que não envolve muito os corações. Digo, está presente e há referências a isto. Mas esta não é a oportunidade para nós explorarmos a história profunda e pessoal da Viúva.
EW: O que você espera em relação a personagem no Universo Cinemático da Marvel que continua expandindo?
SJ: Minha expectativa para a Viúva é, certamente ela cresceu ao longo dos filmes. Estamos construindo vários níveis da personagem. E observando ela, acho que crescemos juntas. Ela é muito capacitada – e eu acho que ela é emocionalmente capacitada. Acho que poderemos ver ela se representando nesta história.
EW: Você exerce bastante sua opinião no que ela faz e diz?
SJ: Claro. E na motivação dela para tomar as decisões que ela toma. Eu tive muitas conversas com Joss sobre o que ela vê no Banner. Ou por que, neste momento da vida, ela é capaz de se abrir desta forma? Nós seguimos com esta história com muita confiança de que era a ‘ponte’ certa para a minha personagem até então.
EW: Como você se sente com o quão minuciosas ficaram as histórias da Viúva?
SJ: Sabe, eu fico feliz que as pessoas vejam em detalhes as histórias da Viúva e se interessem pelas mesmas e estejam envolvidos. Prefiro muito mais que seja assim do que ter uma reação de “é, tanto faz”. Eu prefiro muito mais que as pessoas sintam algo, tenham alguma reação. Tudo que eu já fiz com a Viúva, para mim faz sentido. Está alinhado com as decisões que eu tomei em relação a personagem. Eu pude desenvolver esta personagem bem de perto com Joss e com os diretores da Guerra Civil Joe e Anthony Russo.
EW: Então quando as pessoas ficam agitadas, você fica tipo, “é, isso aí, mexemos com eles”?
SJ: Sim, é claro! Isso é melhor do que uma reação medíocre, definitivamente. Nós esperamos isso. A personagem é muito querida. Você espera que as pessoas terão opiniões a respeito, não é? De alguma forma ela sempre acaba por cima, mesmo que você não concorde com os métodos que ela usou para chegar lá.
Fonte: Entertainment Weekly. Traduzido pela equipe do Scarlett Johansson Brasil.