Após sua morte nobre em Ultimato, Natasha Romanoff foi deixada sem a única coisa que os fãs queriam: um filme solo. Agora que isso finalmente é corrigido em Viúva Negra, Total Film se junta a Scarlett Johansson e a equipe para dissecar a fase 4 do MCU.
COM AMOR, DA RÚSSIA
A última vez que vimos a Viúva Negra foi – para dizer o mínimo – emotivo. “Me solte, está tudo bem,” ela disse ao Gavião Arqueiro, mergulhando para sua morte no planeta Vormir, em Vingadores: Ultimato para o sacrifício final. Como as mortes no Universo Cinematográfico Marvel funcionam – desculpe, Homem de Ferro – provavelmente não havia um momento mais emocionante, quando a ex-espiã da S.H.I.E.L.D. transformada em Vingadora deu sua vida em troca da Joia da Alma.
Ainda, isso deixou o MCU com um problema. Por anos, um filme da Viúva Negra foi discutido, desde 2004 na Lionsgate Enterntainment antes dos direitos serem devolvidos para a Marvel. Quando Scarlett Johansson apareceu pela primeira vez como Natasha Romanoff – a ex-assassina da KGB com um conjunto de habilidades muito específicas – no filme Homem de Ferro 2, de 2010, não demorou muito para que perguntas fossem feitas sobre um filme solo. O maestro da Marvel Studios Kevin Feige até teve conversas com Johansson, que tinha apenas 25 anos na época. Mas havia um empecilho, ele disse. “Os Vingadores vêm primeiro.”
Enquanto outros, Thor, Capitão América, Pantera Negra, e até o Homem-Formiga – tiveram seu momento de brilhar, Viúva Negra teve que esperar. E esperar. E esperar. Não que Johansson sentisse que sua personagem precisava do mesmo tratamento; se ela fosse encabeçar um filme solo na Marvel, deveria haver uma razão. “Há alguma coisa animadora para fazer criativamente, como ator?” ela diz. “Nós vamos poder fazer algo extraordinário e forte? E algo que funcione independentemente?”
É o que faz do filme solo Viúva Negra um prospecto interessante: um aquecimento para a Fase 4 do MCU, promete voltar no tempo antes da morte dramática para responder essas perguntas provocativas que ainda existem sobre sua vida. Crucialmente, o roteiro transporta o público de volta aos eventos após Capitão América: Guerra Civil, seguindo aquela rachadura interna gigante nos Vingadores.
Sem nenhum parente ou organização a empregando, a Viúva Negra está sozinha. “Isso nos deu a oportunidade de realmente mostrar quando ela está fora de seu jogo, sabe? Por causa disso, tudo era possível”. Scarlett estava lá “desde o começo”, nas reuniões de roteiro, quando estavam tentando descobrir como mergulhar nas origens de Natasha. “Você está tentando mapear tudo isso, o que é extremamente estressante pois não há instruções.”
Felizmente, Johansson não estava sozinha. Em outra escolha inspirada para o cânone do MCU, feige recrutou a diretora australiana Cate Shortland, mais conhecida por seus dramas Somersault e Lore. Enquanto ela estava surpresa, ela foi encorajada pela liberdade criativa que a Marvel estava oferecendo. “Eles permitiram que eu fosse eu mesma, e me encorajaram a fazer um filme que eu fosse apaixonada,” ela diz. “Nós fomos permitidos a ter nuances, e a fazer um filme guiado pelo personagem.”
Após inúmeras reuniões no Skype com Johansson, que também recebe créditos como produtora, Shortland trabalhou com um pesquisador russo para explorar a história obscura de Natasha: “a conta no vermelho”, como disse Loki em Avengers (2012). Como ela enfatiza no trailer, “Nós temos que voltar onde tudo começou” – o teaser promete clipes de Romanoff jovem (interpretada por Ever Anderson, filha de Paul W.S. Anderson e Milla Jovovich) em uma infância que parece longe de ser feliz.
É o que faz de Viúva Negra uma reunião familiar que somente a Marvel teria coragem de fazer. Juntando-se a Romanoff, está Yelena Belova, uma figura de irmã e também uma assassina que foi treinada ao seu lado na famosa Sala Vermelha, a instalação soviética punitiva que produziu as espiãs ‘viúvas negras’. “As suas histórias se cruzam,” promete Shortland. “Elas batem de frente.” Interpretada pela estrela de Lady Macbeth britânico Florence Pugh, Belova é mais do que um par físico para Romanoff.
Ainda assim, emocionante onde realmente conta. “O que a Yelena faz é meio que apontar a dor de Natasha,” diz Pugh. “Ela é parte da história de Natasha. E eu acho que é por isso que temos essa oportunidade de olhar para o passado de Natasha, por que Yelena chega batendo na porta e diz ‘Hey, vamos lidar com essa dor” ‘. Como Johansson diz, Belova não é só uma cópia de sua própria personagem. “ Ela é completamente independente. Ela é forte e diferente. Ela é muito diferente da Natasha.”
Ao lado delas estão Melina Vostokoll (Rachel Weisz) e Alexei Shostakov (David Harbour), duas figuras fraternas cujas histórias se interligam com a de Natasha e Yelena. “Essa é a coisa mais legal com esse grupo de pessoas. Todos eles têm partes de seu passado que se arrependem,” diz Pugh. “Eles são mais velhos. Eles tiveram mais experiência de vida. Eles sabem mais coisas sobre o sistema, sobre esse mundo que todos estão vivendo.”
Harbour, a estrela indicada ao Emmy de Stranger Things, pode colocar uma marca permanente no musculoso Shostakov, mais conhecido como Guardião Vermelho, o equivalente russo do Capitão América. “Ele tem essa qualidade gangster nele,” o ator diz. “E ele é coberto de tatuagens. Ele tem essa barba e esses dentes dourados. Ele é insano.” Mas após anos de decisões erradas, ele também está cheio de remorso. “Ele está em um lugar ruim,” adiciona Harbour. “E ele precisa de redenção.”
A personagem Melina de Weisz é outra pessoa que viveu o rigor da Sala Vermelha, um lugar que a trouxe em contato com Natasha e Yelena. Fazendo sua primeira participação no MCU, Weisz reconhece que o filme aborda a ideia de descobrir a sua família por escolha.”É definitivamente sobre encontrar onde você pertence, e de onde você vem, e qual a sua história de origem, e quem você realmente é, e o que importa para você – sua ideologia, eu acho.”
Ao longo do caminho, Feige referenciou The Kids Are All Right – o filme de 2010 de Lisa Cholodenko sobre um casal do mesmo sexo criando dois adolescentes. “O que é muito estranho,” Johansson ri. “Você nunca esperaria isso de um filme da Marvel.” Isso não foi a única referência estranha a um filme. Harbour fala sobre Shostakov como o professor de teatro de Philip Seymour Hoffman na comédia The Savages. Ou até expressando “os caminhos de um estranho filme de indie de cidade pequena, como Pequena Miss Sunshine”.
Algumas referências cinematográficas mais compreensíveis incluíram “coisas como Logan e Aliens e The Fugitive,” diz Shortland. “Nós olhamos para filmes assim.” Certamente, é fácil de ver comparações entre a resoluta Ripley de Sigourney Weaver, da obra-prima Aliens de James Cameron, e a Romanoff de Johansson, uma Vingadora que não tem super poderes. “Nós vimos isso como uma força,” diz Shortland, “porque ela sempre tem que se esforçar muito para sair de situações de merda.”
De acordo com a diretora, todo mundo na produção estava muito interessado em mergulhar profundamente em Romanoff – até o compositor escocês Lorne Balfe (Pennyworth, His Dark Materials), que substituiu a escolha original Alexandre Desplat. Balfe olhou para o passado da personagem, diz Shortland. “Ele disse, ‘Eu quero desenterrar ela, porque ela foi afugentada nos outros filmes. Eu quero dar a ela essa carne e sangue.’ E ele criou essa trilha sonora cheia de alma que é realmente russa.”
Talvez o verdadeiro golpe aqui foi recrutar Shortland, a primeira diretora mulher para dirigir a Viúva Negra (e somente a segunda, seguindo a co-diretora Anna Boden de Capitã Marvel, a entrar no MCU). “Esse filme não seria o que é sem a Cate Shortland,” diz Pugh. “ Eu acho que tendo sua visão, e tendo sua mente com esse roteiro, isso levou a um reino totalmente diferente.” Johansson concorda. “Você pode sentir que foi feito sob a perspectiva feminina, criado lá.”
Enquanto a escalação de Ray Winstone como o supervisor da Sala Vermelha Dreykov (sua filha contribuiu para a abundância de vermelho na conta de Romanoff, de acordo com Loki) adiciona mais à batalha psicológica que Viúva Negra vai explorar, também lida com a vitimização, um tópico muito pertinente ao clima atual. A Sala Vermelha em si é onde trainees femininas são brutalmente esterilizadas. “Você vai essas mulheres se esforçando e tentando ser fortes, e elas são assassinas – e ainda assim elas precisam discutir como elas são abusadas,” diz Pugh. “É uma peça incrivelmente poderosa.”
A julgar pelo Oscar 2020, onde Pugh e Johansson tiveram sua própria conexão no red carpet, as duas atrizes se deram muito bem. “Ela tem uma carreira linda à sua frente… ela é uma pessoa muito especial,” diz Johansson, brilhando quando o nome de Florence Pugh é mencionado. Mais, Pugh talvez tenha mais Marvel para mastigar, se os rumores forem de que sua personagem pegará o manto da Viúva Negra para aventuras futuras.
Aprendendo Parkour, kickboxing e luta de facas para o papel, Pugh consegue passar por isso de verdade, apesar de ela ser relutante ao dizer que Viúva Negra é meramente um caminho para o futuro “Apesar de ser óbvio que isso seja para onde todos querem que vá e pensar – pensar sobre o que vem em seguida – esse filme nunca foi como se estivesse tentando sublinhar isso.” De acordo com Johansson, entretanto, o público de teste que viu o filme pensa o contrário. “Sua personagem e sua performance é muito amada.”
Agora, após mais de um ano de atrasos relacionados à pandemia (o filme foi transferido de maio de 2020 para outubro de 2020 para julho de 2021), não serão apenas alguns espectadores de teste sortudos que vão poder vê-lo. Viúva Negra será, inclusive, o primeiro filme da Marvel a estrear simultaneamente no site de streaming Disney+ (com uma taxa de acesso Premier), um movimento compreensível considerando a incerteza que ainda existe ao redor do planeta. E, seguindo o sucesso das séries de TV WandaVision e The Falcon and The Winter Soldier, não parece um alienígena em casa.
Johansson acredita que os fãs vão responder a Viúva Negra, como esse flashback de uma parte anterior em sua vida trazendo pungência ao seu desfecho de Ultimato. “Nosso objetivo era que os fãs se sentissem satisfeitos com essa história; que eles talvez pudessem encontrar um propósito, eu acho, com a morte da personagem, de alguma forma. Eu senti que as pessoas queriam isso. Shortland concorda: Nós sentimos que tínhamos que honrar a sua morte,” ela diz. E com certeza Viúva Negra vai honrar isso.